domingo, 2 de setembro de 2012

Internet em transe

foto GL - Nyc

O debate e a reportagem sobre o canal do Youtube que oferece mais de 130 filmes brasileiros na
íntegra, de graça e de forma ilegal, deveriam nos fazer pensar sobre a História.
Início do século XIX. O industrialismo toma corpo e nasce a fábrica como núcleo produtivo ao lado do latifúndio, da banca, da propriedade rural e do comércio. Os tempos modernos exigem mudanças culturais. Surgem conceitos coletivos tais como escola, hospital, transporte público, restaurante e clube de recreação. Mas a nova ordem também necessita de energia, cuja principal fonte de alimentação é o óleo de baleia. Assim, tem início a carnificina que hoje motiva e sustenta a ação de grupos como o
Greenpeace. Foi neste contexto que Herman Melville escreveu "Moby Dick", obra pela qual o autor nunca viu reconhecimento de crítica ou de público, muito menos financeiro. Londres tinha então, segundo a Wikipedia, 700 mil habitantes e era a maior cidade do mundo.
Duzentos anos depois, vivemos a Era da Internet, onde Jobs, Gates e Zuckerberg são tão ou mais famosos que Da Vinci, Shakespeare e Beethoven. As empresas criadas por esses bravos rapazes americanos faturam trilhões, criando mais um capítulo na história da riqueza do homem. Na crista desta onda surfa o Youtube, canal de exibição de vídeos da Google Inc., proprietária do Gmail e do Blogger, prima-irmã do Facebook e do Twitter.
Esta rede abriga mais de 2,1 bilhões de exigentes consumidores demandando acesso gratuito a músicas, filmes, livros, sexo, custe o que custar, até mesmo o fim de pequenas e médias empresas que poderiam gerar outros bilhões de empregos, mas que, neste mar de predadores, mal conseguem nadar para sobreviver. Quando um cidadão, que é formado em filosofia e jornalismo, usa o Facebook para indicar aos amigos um excelente filme visto no Youtube e baixado de um WordPress, além de cometer um crime previsto em lei, ele está contribuindo para que salas de cinema e lojas locadoras fechem suas portas e seus funcionários percam os empregos. Então, a empresa distribuidora de vídeos não terá mais a quem vender e não comprará mais da empresa produtora, que por sua vez deixará de realizar o próximo projeto do artista do excelente filme curtido pelo cidadão. Quem ganha com isso? O cidadão, é claro, que enriquece com simpatia e prestígio junto à sua rede social, podendo até receber um aumento no salário ou arrumar a namorada ideal. Mas dinheiro que é bom, apenas as empresas dos bravos rapazes americanos vestidos de defensores da liberdade. Neste cenário e neste roteiro, o somatório dessas simpáticas e ingênuas ações - todas semelhantes à do cidadão filósofo e jornalista - é bem mais do que um crime contra o direito autoral. Acima de tudo, é um crime contra a economia nacional que levará à extinção de todo um segmento produtivo. Como a conclusão deste assunto está longe de surgir, fica a dúvida. Para resolver este crime, chamamos a polícia ou chamamos o ladrão?

Marcelo Laffitte   publicado O Globo

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