quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Ajuste fino

foto GL-NYC
Desde o século 16 o comércio intemacional vem crescendo. A partir do século 19, à
medida que a Inglaterra se industrializava "criou-se" e, lentamente "consolidou-se"
a ideia (vendida como "teoria científica") de que a plena liberdade de comércio (não
importando a história ou a geografia dos países) era o regime que produzia o maior
"bem-estar para todos"_As qualificações teóricas e empíricas a tal "teoria" nunca
foram levadas muito a sério pelo "mainstream", que continuou insistindo nas "virtudes"do "conto de fadas" _ Os governos (de EUA, França, Alemanha e outros países), ao contrário, mandaram-no às favas intervindo, às claras ou às escondidas, no controle de suas importações e no estímulo às suas exportações
_ Neste início do século 21, parece realizar-se, pelo menos, uma das inúmeras "previsões" não cumpridas de Marx, de que "o capital não pararia antes de ocupar o mundo"_ Na "globalização" em que vivemos, salta aos olhos a ingenuidade da crença de que a "liberdade de comércio é, matematicamente demonstrada, o que melhor convém ao bem estar da sociedade mundial". _O que é incrível é ainda vê-la utilizada para a crítica da política comercial do Brasil_ Esta pode ser sujeita a restrições de natureza prática, como é o caso sobre a proteção ao setor de calçados, mas não por questão "de principio"_A política econômica dos últimos 25 anos tirou do produtor nacional as condições isonômicas de competição: maior carga tributária que não pode ser compensada na exportação; a maior taxa de juros real do mundo valorizou o câmbio nominal que, ajudado pelo aumento de salários nominais, valorizou o câmbio real. Tais fatos justificam plenamente intervenções pontuais. A indústria de artefatos de vidro, por exemplo, tem uma capacidade ociosa da ordem de 20% que não pode aproveitar devido às importações desleais, subsidiadas pelo câmbio e pela taxa de juros e beneficiadas por menor carga tributária de nossos competidores_ Uma proteção tarifária adequada claramente declinante, que imponha condicionalidades e que não impeça a importação, poderia permitir-lhe usá-la reduzindo os seus preços e mantendo-a no "estado da arte" em que está hoje_ É evidente que isso não recomenda qualquer aumento de tarifas sem uma análise cuidadosa de suas consequências sobre as cadeias produtivas e sem impor algumas condicionalidades_ Nossos "livre-cambistas"criticam duramente o governo, mas não dizem uma palavra sobre o que fazer diante dos absurdos subsídios de exportação chineses e muito menos com relação à criação de novos, o "ajuste fino", que acaba de ser anunciado pelo premiê chinês, Wen jiabao.
_Antonio Delfim Netto, publicado na Folha de SP 12/9/2012.

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