terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ROMÁRIO

NYC- foto GL
- Você foi recebido com preconceito em Brasília?
Olha, vou ser claro para quem ler entender como as coisas são. Há o burro, aquele que não entende o que acontece ao redor. E há o ignorante, que não teve tempo de aprender. Não houve preconceito comigo porque não sou nem uma coisa nem outra. Mesmo tendo a rotina de um grande jogador que fui, nunca deixei de me informar, estudar. Vim de uma família muito humilde. Nasci na favela. Meu pai, que está no céu, e minha mãe ralaram para me dar além de comida, educação. Consciência das coisas... Não só joguei futebol. Frequentei dois anos de faculdade de Educação Física. E dois de moda. Sim, moda. Sempre gostei de roupa, de me vestir bem. Queria entender como as roupas eram feitas. Mas isso é o de menos. O que importa é que esta sede de conhecimento me deu preparo para ser uma pessoa consciente... Preparada para a vida. E insisto em uma tese em Brasília, com os outros deputados. O Brasil só vai deixar de ser um país tão atrasado quando a educação for valorizada. O professor é uma das classes que menos ganha e é a mais importante. O Brasil cria gerações de pessoas ignorantes porque não valoriza a Educação. E seus professores. Não há interesse de que a população brasileira deixe de ser ignorante. Há quem se beneficie disso. As pessoas que comandam o País precisam passar a enxergar isso. A Saúde é importante? Lógico que é. Mas a Educação de um povo é muito mais.
- Essa ignorância ajuda a corrupção? Por exemplo, que legado deixou o Pan do Rio?
Você não tenha dúvidas que a ignorância é parceira da corrupção. Os gastos previstos para o Pan do Rio eram de, no máximo, R$ 400 milhões. Foram gastos R$ 3,5 bilhões. Vou dar um testemunho que nunca dei. Comprei alguns apartamentos na Vila Panamericana do Rio como investimento. A melhor coisa que fiz foi vender esses apartamentos rapidamente. Sabe por quê? A Vila do Pan foi construída em cima de um pântano. Está afundando. O Velódromo caríssimo está abandonado. Assim como o Complexo Aquático Maria Lenk... É um escândalo! Uma vergonha! Todos fingem não enxergar. Alguém ganhou muito dinheiro com o Panamericano do Rio. A ignorância da população é que deixa essa gente safada sossegada. Sabe que ninguém vai cobrar nada das autoridades. A população não sabe da força que tem. Por isso que defendo os professores. Não temos base cultural nem para entender o que acontece ao nosso lado. E muito menos para perceber a força que temos. Para que gente poderosa vai querer a população consciente? O Pan do Rio custou quatro vezes mais do que este do México. Não deixou legado algum e ninguém abre a boca para reclamar.
- Se o Pan foi assim, a Copa do Mundo no Brasil será uma festa para os corruptos...
Vou te dar um dado assustador. A presidente Dilma havia afirmado quando assumiu que a Copa custaria R$ 42 bilhões. Já está em R$ 72 bilhões. E ninguém sabe onde os gastos vão parar. Ningúem. Com exceção de São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul e olhe lá...Pernambuco... Todas as outras sete arenas não terão o uso constante. E não havia nem a necessidade de serem construídas. Eu vi onze das doze... Estive em onze sedes da Copa e posso afirmar sem medo. Tem muita coisa errada. E de propósito para beneficiar poucas pessoas. Por que o Brasil teve de fazer 12 sedes e não oito como sempre acontecia nos outros países? Basta pensar. Quem se beneficia com tantas arenas construídas que servirão apenas para três jogos da Copa? É revoltante. Não há a mínima coerência na organização da Copa no Brasil.
- São Paulo acaba de ser confirmado como a sede da abertura da Copa. Você concorda?
Como posso concordar? Colocaram lá três tijolinhos em Itaquera e pronto... E a sede da abertura é lá. Quem pode garantir que o estádio ficará pronto a tempo? Não é por ser São Paulo, mas eu não concordaria com essa situação em lugar nenhum do País. Quando as pessoas poderosas querem é assim que funcionam as coisas no Brasil. No Maracanã também vão gastar uma fortuna, mais de um bilhão. E ninguém tem certeza dos gastos. Nem terá. Prometem, falam, garantem mas não há transparência. Minha luta é para que as obras não fiquem atrasadas de propósito. E depois aceleradas com gastos que ninguém controla.
- O que você acha de um estádio de mais de R$ 1 bilhão construído com recursos públicos. E entregue para um clube particular. Você está falando do estádio do Corinthians, não é? Não vou concordar nunca. Os incentivos públicos para um estádio particular são imorais. Seja de que clube for. De que cidade for. Não há meio de uma população consciente aceitar. Não deveria haver conversa de politico que convencesse a todos a aceitar. Por isso repito que falta compreensão à população do que está acontecendo no Brasil para a Copa.
- A Fifa vai fazer o que quer com o Brasil?
Infelizmente, tudo indica que sim. Vai lucrar de R$ 3 a R$ 4 bilhões e não vai colocar um tostão no Brasil. É revoltante. Deveria dar apenas 10% para ajudar na Educação. Iria fazer um bem absurdo ao Brasil. Mas cadê coragem de cobrar alguma coisa da Fifa. Ela vai colocar o preço mais baixo dos ingressos da Copa a R$ 240,00. Só porque estamos brigando pela manutenção da meia entrada. É uma palhaçada! As classes C, D e E não vão ver a Copa no estádio.
O Mundial é para a elite. Não é para o brasileiro comum assistir.
- Ricardo Teixeira tem condições de comandar o processo do Mundial de 2014?
Não tem de saúde. Eu falei há mais de quatro meses que ele não suportaria a pressão. Ser presidente da CBF e do Comitê Organizador Local é demais para qualquer um. Ainda mais com a idade que ele tem. Não deu outra. Caiu no hospital. E ainda diz que vai levar esse processo até o final. Eu acho um absurdo.
- Muito além da saúde de Ricardo Teixeira. Você acha que pelas várias denúncias, investigações da Polícia Federal... Ele tem condições morais de comandar a organização Copa no Brasil?
Não. O Ricardo Teixeira não tem condições morais de organizar a Copa. Não até provar que é inocente. Que não tem cabimento nenhuma das denúncias. Até lá, não tem condições morais de estar no comando de todo o processo. Muito menos do futebol brasileiro...
A África apresentou há alguns meses atrás o resultado final da Copa do Mundo: deu prejuízo e grande. Agora é a vez do Brasil. Fifa, CBF, políticos e os empreiteiros vão ganhar muito dinheiro.
Quem teve a idéia de promover, o evento em nosso país, alguém sabe?
Parte de entrevista do ROMÁRIO ao jornalista Cosme Rimoli - TV Record . 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O jogo da pirataria

fotoGL Miami
Desinformação pode ser imoral, mas funciona. Este fato ficou evidente na recente ofensiva de Google, Yahoo, You-Tube e outros gigantes agregadores de conteúdo contra projetos de lei que combatem a pirataria digital nos Estados Unidos, Espanha e outros países europeus.
A desinformação, neste caso, está em dizer que estes projetos de lei representam uma ameaça à liberdade de expressão. Isto equivale a um político corrupto no Brasil protestar que a lei da Ficha Limpa seria uma ameaça às liberdades civis.
Metáforas à parte, há três aspectos da campanha coordenada dos gigantes da internet contra as leis antipirataria que merecem uma reflexão:
A primeira é o estranho paradoxo de as mesmas empresas repetidamente flagradas secretamente violando a privacidade dos seus milhões de usuários assumirem o papel de paladinos da liberdade.
A segunda são as declarações indignadas destas corporações de que leis antipirataria equivalem à “censura”, expressão que evoca a atuação repressiva dos regimes ditatoriais do Irã e da China na internet. Mas desde quando é “censura” a ação de um juiz de direito numa sociedade democrática, tomada após ouvir os argumentos das partes e considerar as evidências do caso?
E a terceira, e mais instigante, é o fato singelo de que, na campanha dos gigantes da internet contra as leis antipirataria, nunca é mencionado que algumas destas mesmas empresas indiretamente faturam centenas de milhões de dólares com a pirataria.
É isto mesmo. Google, Yahoo e outros agregadores se apropriam indiretamente do trabalho de atores, diretores, jornalistas, compositores, cantores, produtores, escritores e editores para faturar com publicidade.
Esta afirmativa pode parecer extrema. Afinal, será que Sergey Brin e Larry Page, os jovens bilionários que criaram o Google com o genial slogan “do no evil”, seriam capazes de tamanha desfaçatez?
Esta é a deixa para a entrada em cena de um personagem que surgiu do anonimato nas últimas semanas: Kim Dotcom, criador do site de armazenamento e distribuição de conteúdo, especialmente conteúdo pirata, Megaupload.
Dotcom foi preso em janeiro na sua mansão na Nova Zelândia. Com seus helicópteros, coleção de carros de luxo e dezenas de milhões de dólares, ele representa o lado escondido da distribuição gratuita do trabalho de terceiros pela internet.
Ao contrário do estereótipo difundido por alguns, a distribuição ilegal via internet não é obra de jovens libertários compartilhando arquivos com amigos — isto é tão somente um proverbial boi de piranha. A pirataria na realidade é fruto do trabalho de Kim Dotcom e outros como ele, que vendem espaço publicitário aproveitando o tráfego de internautas gerado pelas descargas ilegais; assim, protegidos por uma suposta defesa da liberdade de expressão, ficam milionários explorando o trabalho de uns e a ingenuidade de outros.
E onde figuram Sergey Brin e Larry Page neste cenário? Google não oferece diretamente filmes e livros piratas.  Mas o Megaupload não tem funcionários vendendo publicidade mundo afora. A publicidade veiculada no Megaupload e outros sites de descarga ilegal é distribuída pelas plataformas de mídia oferecidas pelos grandes agregadores da internet, tais como a Google Adwords. Para cada milhão de dólares dos anunciantes faturado pelo Megaupload, outros tantos são depositados nas contas dos agregadores.
Para escritores, compositores, atores, diretores, músicos — zero.  O Megaupload não é o único site que fatura com o tráfego ilegal. Existem dezenas de outros. Mais de 90% das descargas piratas de livros brasileiros se originam no site americano 4shared, que, em parceria com os agregadores, fatura alto se apropriando do trabalho de escritores brasileiros.
O uso demagógico da defesa da liberdade de expressão atrasou a aprovação das leis antipirataria nos parlamentos dos Estados Unidos e da Europa. Mas, inevitavelmente, estas leis serão aprovadas porque são fundamentais para a continuidade da produção intelectual, cultural, científica e jornalística. E, sim, para preservar a genuína diversidade e liberdade de expressão.
A sociedade e o legislativo brasileiro não podem ignorar esta questão. Se cederem à pressão da desinformação em prol da impunidade dos piratas, a produção cultural e científica nacional vai definhar e crescerá o consumo no Brasil da produção cultural, jornalística e científica estrangeira, devidamente protegida pela lei nos seus países de origem. 

texto de ROBERTO FEITH , jornalista e editor de livros, publicado no Globo de 27 de fevereiro de 2012.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Passista da Mangueira

Sambódromo 2012 - Rio
Foi na ala de passistas da Mangueira, isso é como jogar na Seleção Brasileira de 70. Quando a Escola entrou eu estava com a bandeira na mão, lembrei meu pai que amava a Mangueira mesmo quando dirigia a Vila Isabel, lembrei minha avó sentada na arquibancada de madeira da av. Presidente Vargas, a gente passava e a cumprimentava lá em cima, ela ia assistir a Mangueira, a Mangueira do Delegado, do Cartola, da bateria, da Gigi que quando desfilava meu pai e o povo gritavam: "Gigi!! Gigi!! Gigi!! Eu a amava porque era linda e seu nome era quase o meu... pois foi na Mangueira que eu a vi e lembrei da Gigi, e ela samba mais até que a Gigi, foi um escândalo... muito linda, mas muito mesmo, e dançando de uma maneira... eu quase a chamei, mas... sabe quando a voz não sai, fica apertada, ela estava tão deslumbrantemente linda, mas tanto, que minha voz, pobre de mim, nem saiu... da beira do alambrado fiquei bobo a vendo passar, e a vi numa ala só de lindas, ela vinha na minha direção, com uma roupa linda, e dançou, rodou a saia longa, dançou de um jeito tão... gente, fiquei emocionado... eu só podia agradecer aquele momento.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Galvão

Quando diante do relevo meu amigo exclamou: "Sérgio Camargo???!!!" lhe respondi: "João Carlos Galvão!" A vitória do trabalho de Galvão se expressa também pela lembrança que projeta. Se Camargo é um marco na arte brasileira seu discurso não parou aí, Galvão que foi seu assistente nos anos 60 em Paris, avançou e já confunde os olhares ávidos por nomear autoria. Ao lado de Camargo podemos eleger Galvão como "Mestre" do construtivismo nacional. E como ele mesmo diz: "a tridimensionalidade é uma vocação brasileira".

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

memória Carnaval 1979

Sugar Loaf- foto Teresa Eugênia

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O riso e a lágrima

NYC- foto GL
"A distância entre o riso e a lágrima é apenas o nariz".
Millôr Fernandes

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ser Brasil

"Quero ser Brasil. Não quero ser Rolling Stones. Quero ser Carlinhos Brown com meus erros, com meu tambor desafinado".
Douro- foto GL

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Tá tudo dominado...


Mas o que leva alguém a supor que ainda há mundo a ser dominado? Já está dito: tá tudo dominado.
Coube ao nosso sociólogo Hermano Vianna em sua coluna no Globo desta sexta feira, especular sobre pressupostos da ação legislativa americana e criticar o avanço dos controles associados à Nova Cultura como imbecilidades e fragilidades face a uma ameaça de dominação do mundo. Seria preocupação com o que acontece lá? Bem longe daqui.
Coube também duvidar dos números da pirataria, de lá. Fala do desemprego americano e cita frases de Neil Young, Julian Sanchez (?), Nat Torlington (?), Mike  Loukides (?) e Thomas Jefferson. É pretensão científica típica daqui citar grandes conhecimentos com o que se passa por lá para angariar prestígio por cá. A mistificação passa pelo uso de fontes desconhecidas que esclarecem a ignorância do leitor e aumentam a credibilidade do texto.
Ressalvas anti comunistas servem para legitimar opiniões sobre comportamentos econômicos, acrescidas de aferições planetárias sobre a decadência do que o sociólogo chama de indústria de conteúdo. Estas estariam ameaçando internautas que simplesmente insistem em difundir produtos roubados.
Tudo isso para concluir que o conteúdo privado polui o domínio público, como o céu é do avião... e  sem deixar de lembrar que idéia é sempre criada a partir de idéia dos outros (?... ). Na verdade insiste em desvalorizar a criação individual afim de negar sua propriedade. Mistura o direito de memorizar uma música com direito de propriedade sobre a comercialização, esquece que a venda legal de produtos ilegais é uma ilegalidade, que uma agência de carros legal que comercializa carros roubados também pratica uma ilegalidade.
Mas o que leva alguém a supor que ainda há mundo a ser dominado? O pior inimigo é não sabê-lo e não há meio melhor de sublimar a realidade que nos atinge do que enveredar pelo escapismo, outra atitude típica por aqui. As questões são abordadas sob um anticomprometimento. Pouco importa o que acontece por aqui.
A falta de controles sobre a pirataria nos novos meios em nosso ambiente? Isso não é assunto. Criative Commons sim, foi assunto enquanto pode para finalmente não querer dizer exatamente nada entre nós, mas ocupou muito espaço, vazio.
O impacto que a pirataria teve e tem sobre a nossa economia e sobretudo na geração de riquezas da Música Brasileira, principal produto cultural nacional, isso não é assunto. A debacle cultural do Brasil na última década, a desmobilização de toda malha envolvida na música nacional, a decorrente perda da hegemonia do seu mercado, a nova ocupação estrangeira do mercado de shows no Brasil, a ausência de competitividade nacional, nada disso é assunto. A isenção fiscal para importação de produtos culturais também não merece reflexão. Vamos falar de pirataria lá, da Assembléia americana, da sopa de lá, daqui, nada.
A pirataria tem prestado um serviço nos mercados mundiais alternativos, frustra a comercialização no meio anterior e inibe o desenvolvimento do novo. Condena ao atraso e entrega o mercado a quem tem capacidade de investimento. Quem são os verdadeiros visionários entre nós? Ou a quem interessa insuflar o debate da polarização Hollywood contra Vale do Silício? Que país é esse?... ou Tá tudo dominado.
O artigo do Hermano