sábado, 4 de fevereiro de 2012

Tá tudo dominado...


Mas o que leva alguém a supor que ainda há mundo a ser dominado? Já está dito: tá tudo dominado.
Coube ao nosso sociólogo Hermano Vianna em sua coluna no Globo desta sexta feira, especular sobre pressupostos da ação legislativa americana e criticar o avanço dos controles associados à Nova Cultura como imbecilidades e fragilidades face a uma ameaça de dominação do mundo. Seria preocupação com o que acontece lá? Bem longe daqui.
Coube também duvidar dos números da pirataria, de lá. Fala do desemprego americano e cita frases de Neil Young, Julian Sanchez (?), Nat Torlington (?), Mike  Loukides (?) e Thomas Jefferson. É pretensão científica típica daqui citar grandes conhecimentos com o que se passa por lá para angariar prestígio por cá. A mistificação passa pelo uso de fontes desconhecidas que esclarecem a ignorância do leitor e aumentam a credibilidade do texto.
Ressalvas anti comunistas servem para legitimar opiniões sobre comportamentos econômicos, acrescidas de aferições planetárias sobre a decadência do que o sociólogo chama de indústria de conteúdo. Estas estariam ameaçando internautas que simplesmente insistem em difundir produtos roubados.
Tudo isso para concluir que o conteúdo privado polui o domínio público, como o céu é do avião... e  sem deixar de lembrar que idéia é sempre criada a partir de idéia dos outros (?... ). Na verdade insiste em desvalorizar a criação individual afim de negar sua propriedade. Mistura o direito de memorizar uma música com direito de propriedade sobre a comercialização, esquece que a venda legal de produtos ilegais é uma ilegalidade, que uma agência de carros legal que comercializa carros roubados também pratica uma ilegalidade.
Mas o que leva alguém a supor que ainda há mundo a ser dominado? O pior inimigo é não sabê-lo e não há meio melhor de sublimar a realidade que nos atinge do que enveredar pelo escapismo, outra atitude típica por aqui. As questões são abordadas sob um anticomprometimento. Pouco importa o que acontece por aqui.
A falta de controles sobre a pirataria nos novos meios em nosso ambiente? Isso não é assunto. Criative Commons sim, foi assunto enquanto pode para finalmente não querer dizer exatamente nada entre nós, mas ocupou muito espaço, vazio.
O impacto que a pirataria teve e tem sobre a nossa economia e sobretudo na geração de riquezas da Música Brasileira, principal produto cultural nacional, isso não é assunto. A debacle cultural do Brasil na última década, a desmobilização de toda malha envolvida na música nacional, a decorrente perda da hegemonia do seu mercado, a nova ocupação estrangeira do mercado de shows no Brasil, a ausência de competitividade nacional, nada disso é assunto. A isenção fiscal para importação de produtos culturais também não merece reflexão. Vamos falar de pirataria lá, da Assembléia americana, da sopa de lá, daqui, nada.
A pirataria tem prestado um serviço nos mercados mundiais alternativos, frustra a comercialização no meio anterior e inibe o desenvolvimento do novo. Condena ao atraso e entrega o mercado a quem tem capacidade de investimento. Quem são os verdadeiros visionários entre nós? Ou a quem interessa insuflar o debate da polarização Hollywood contra Vale do Silício? Que país é esse?... ou Tá tudo dominado.
O artigo do Hermano

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