Mas o que leva alguém a supor que ainda há mundo a ser
dominado? Já está dito: tá tudo dominado.
Coube ao nosso sociólogo Hermano Vianna em sua coluna no
Globo desta sexta feira, especular sobre pressupostos da ação legislativa
americana e criticar o avanço dos controles associados à Nova Cultura como
imbecilidades e fragilidades face a uma ameaça de dominação do mundo. Seria preocupação com o que acontece lá? Bem longe daqui.
Coube também duvidar dos números da pirataria, de lá. Fala
do desemprego americano e cita frases de Neil Young, Julian Sanchez (?), Nat
Torlington (?), Mike Loukides (?)
e Thomas Jefferson. É pretensão científica típica daqui citar grandes
conhecimentos com o que se passa por lá para angariar prestígio por cá. A
mistificação passa pelo uso de fontes desconhecidas que esclarecem a ignorância
do leitor e aumentam a credibilidade do texto.
Ressalvas anti comunistas servem para legitimar opiniões
sobre comportamentos econômicos, acrescidas de aferições planetárias sobre a
decadência do que o sociólogo chama de indústria de conteúdo. Estas estariam
ameaçando internautas que simplesmente insistem em difundir produtos roubados.
Tudo isso para concluir que o conteúdo privado polui o
domínio público, como o céu é do avião... e sem deixar de lembrar que idéia é sempre criada a partir de idéia dos
outros (?... ). Na verdade insiste em desvalorizar a criação individual afim de
negar sua propriedade. Mistura o direito de memorizar uma música com direito de
propriedade sobre a comercialização, esquece que a venda legal de produtos
ilegais é uma ilegalidade, que uma agência de carros legal que comercializa
carros roubados também pratica uma ilegalidade.
Mas o que leva alguém a supor que ainda há mundo a ser
dominado? O pior inimigo é não sabê-lo e não há meio melhor de sublimar a
realidade que nos atinge do que enveredar pelo escapismo, outra atitude típica
por aqui. As questões são abordadas sob um anticomprometimento. Pouco importa o
que acontece por aqui.
A falta de controles sobre a pirataria nos novos meios em
nosso ambiente? Isso não é assunto. Criative Commons sim, foi assunto enquanto
pode para finalmente não querer dizer exatamente nada entre nós, mas ocupou
muito espaço, vazio.
O impacto que a pirataria teve e tem sobre a nossa economia
e sobretudo na geração de riquezas da Música Brasileira, principal produto
cultural nacional, isso não é assunto. A debacle cultural do Brasil na última
década, a desmobilização de toda malha envolvida na música nacional, a
decorrente perda da hegemonia do seu mercado, a nova ocupação estrangeira do
mercado de shows no Brasil, a ausência de competitividade nacional, nada disso é assunto. A isenção fiscal para
importação de produtos culturais também não merece reflexão. Vamos falar de
pirataria lá, da Assembléia americana, da sopa de lá, daqui, nada.
A pirataria tem prestado um serviço nos mercados mundiais
alternativos, frustra a comercialização no meio anterior e inibe o
desenvolvimento do novo. Condena ao atraso e entrega o mercado a quem tem
capacidade de investimento. Quem são os verdadeiros visionários entre nós? Ou a
quem interessa insuflar o debate da polarização Hollywood contra Vale do
Silício? Que país é esse?... ou Tá tudo dominado.
O artigo do Hermano
O artigo do Hermano
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