terça-feira, 1 de novembro de 2011

As Reminiscências e o Futuro


Gil Lopes | quarta-feira, 17 fevereiro 2010

Imagem: Gil Lopes
pintura de Gonçalo Ivo
Aceitei o convite para colaborar neste ambiente e projetei um breve painel do que vi e que revela também como vi esses tempos. Se os anos 70 foram marcados pela ditadura militar no Brasil, os 80 foram a redenção para minha geração que chegou a idade adulta e ao mercado de trabalho querendo construir um novo Brasil, depois da adolescência carente de liberdade. As Diretas , a Constituinte e a pergunta da década: que país é esse? Foram episódios marcantes e na Cultura a vanguarda foi da música brasileira, nenhuma outra expressão teve tanta potência e popularidade. A MPB, o Tropicalismo e o rock Internacional se misturaram de tal maneira que o caldo resultante se chamou Rock Brasil e conquistou todas as esquinas do país. O rock que fala a nossa língua foi a trilha sonora do período.
A volta da política trouxe a percepção das energias e dos sonhos represados até então: que país é esse, ideologia, alagados, entre outras canções de sucesso refletiam um comportamento engajado e a esperança de construir o novo país. O Estado projetou neste período um ambiente cultural financiado pelo benefício fiscal e chamou de Lei Sarney.
Foram tempos de grande emoção, instabilidade e muita inflação. Tanta, que a opção pela estabilidade virou uma obstinacão dos brasileiros que passaram a conspirar pelo seu êxito.
Os 90 trouxeram finalmente o presidente eleito, um rebento que não poderia mesmo dar certo pois foi uma obra gerada sob grande ansiedade , o resultado foi um banho de água fria. No entanto, paradoxalmente a agenda brasileira foi radicalmente alterada e o país mudou, o amadorismo foi substituído pelo pragmatismo empresarial e o Consenso de Washington deliberou por toda América Latina e no Brasil em particular. Veio o fim da inflação, moeda firme, privatizações e crescimento do mercado. A burguesia comprou o sonho da globalização financiada pelo câmbio favorável do 1 pra 1. O rock brasileiro foi substituído pelo importado. O país sonhou com sua imagem e saiu atrás dela reconstruindo o cinema nacional.
Na outra ponta, a inclusão e chegada ao mercado de um contingente até então excluído do consumo, de pouco acesso a renda e educação, revelou a face cultural reproduzida nos guetos pobres e de periferia como o axé, o pagode , o sertanejo, e a música do padre, esta resultante do fenômeno da crendice. O teatro não se descobriu e reproduziu a memória estrangeira ou descambou no besterol, a dramaturgia nacional fez reduto na televisão. Na literatura, dependente de educação e sofisticação, nada de importante ou de relevância a não ser o tamanho das livrarias e seus estoques.
O Poder, a Cultura e o Mercado formam o campo de batalha da Nova Cultura que o novo século inaugurou. O Brasil pela sua circunstância e história tem inexoravelmente uma importância crescente no concerto das nações. Para afirmar nossos pontos de vista e participar da competição internacional dependemos da resposta ao que país é esse. É o nosso maior desafio.

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