sexta-feira, 24 de agosto de 2012

De olho nas Olimpíadas do Rio


R.Gerchman

Vieram com Simonal, aquele abraço, francamente...um engano total nossa manifestação em Wembley, irrelevante não fosse a presença de Pelé...nossa música vencedora foi feita por Tom Jobim e está aí pelo mundo viajando...quando o olhar do mundo focar no Rio a trilha sonora deve partir de Tom Jobim, nossa vitória. Não faltam grandes artistas para realizar isso: Edu Lobo, Jacques Morelenbaum, Francis Hime, Jaime Além e muitos outros...e a música brasileira é vitoriosa no mundo e sua maior expressão é jobiniana...precisamos revelar isso sempre.
Gostei do visual, teve um tom mágico, gostei dos índios também, somos muito índios basta ver a nossa maravilhosa lutadora do Piauí, linda, somos negros índios e brancos, é bom mostrar isso para o mundo. Gostei da menção construtiva, foi bonito o visual...mas a música...os brits mostraram o que querem com a música, começam sempre pelos Beatles, é claro, assim sobre todas as coisas, e depois descem com tudo, mostram de tudo mesmo. Mas o alicerce é claro. Podemos num rompante de humildade cívica adotar o modelo, afinal parece que dá certo, ou não… Um tiquinho de Villa para limpar a barra com os xiitas e, geléia geral. É outro caminho.
Se de fato Tom e Vinicius, cariocas nativos, fizeram a síntese do Rio que com o baiano João virou síntese nacional e isso se tornou a nossa obra de arte mais importante do século, então temos um alicerce. Isso está constituído. Podemos acrescentar Ari Barroso e Caymmi, o Tropicalismo, e as outras coisas, mas o alicerce lá. Se cultura é confronto, é guerra, então temos que nos armar de nossa potência. É muito sério isso, é nossa primeira Olimpíada num mundo que olha para isso, temos de cuidar do legado, ensiná-lo, sem isso não temos saída, nem avanço. 
Não gostei do Sorriso chapliniano, logo o Rio que é uma sujeira e onde seguranças dão e levam garrafadas, e senti a ausência do clichê das mulheres bonitas e semi nuas. Aqui é assim, com pouca roupa, é quente. 
Hermano Vianna no Globo pensa diferente. Quando Ferreira Gullar fala da necessidade da arte porque a realidade é pouca, Hermano pega isso e invoca Game of Thrones, confunde tudo. Seria como chamar um gibi de ready-made... E fenômeno! Acusa os brasileiros de " inseguros por criar muitas barreiras para nos defender do que vem de fora"... está falando de quem? Dos brasileiros mesmo? Se refere ao Criativo Comum? Afinal, onde estão essas barreiras se só importamos tudo??? Ainda é pouco? 
Mas fala dessas coisas para chegar na cerimônia olímpica preocupado com o "nacionalismo" da festa britânica. Que novidade? Os Brits estão  sempre em festas nacionalistas, o tempo todo, acabaram de celebrar a regata da Rainha na qual se prepararam durante um ano. A seguir as Olimpíadas e semana que vem tem outra...é assim. Cansaço? Decadência? Há quantos séculos? Estamos em plena perplexidade diante do check mate musical: só a música anglo americana domina, circula, produz riquezas. E é tão interessante ouvir falar do fim da indústria da música depois do show dos ingleses na Olimpíada que foi música o tempo todo em todos os lados, mostraram mesmo que a decadência é papo dos “sociólogos”…
O rompante de humildade cívica seguindo o modelo brit de celebração é pra esquecer com nosso Hermano. Ele quer mesmo a geléia geral e já começou a sugeri-la, vide o artigo no Globo. Ele quer "...esquecer o que é realmente brasileiro" ( o Francisco Bosco, outro articulista no mesmo espaço, quer que esqueçamos nossa hegemonia no futebol, inventou outro esporte), Hermano aposta na ... mistura ( será um novíssimo gênero?). Nada de brasileirismos, isso é para Brits e Chinos...ou seja, estamos condenados a comer macarrão com peixe, xis tudo, como se isso não fosse apenas indigência e não um paladar preferido. Hermano quer a festa na rua, nem se liga para a segurança, o trânsito, os turistas, que se danem, somos diferentes e o cheiro de xixi faz parte...ora essa, é insuportável esses populismo avesso de intelectual em apartamento com ar condicionado e varandão se regozijando com o visual da massa, que mijada e fedida usufrui da única organização que lhe é possível, nenhuma, contando apenas com a a sua alegria atávica. Isso é condenação.
Mas eu disse do desgosto em ver o Sorriso na festa olímpica, mesmo gostando tanto dele, porque minha preferência seria mostrar que pobre a gente põe na escola, mais que o orgulho em mostrá-los amenos, boa gente. A vitória do pobre seria sua emancipação, não a cooptação. Projetar uma imagem chapliniana dócil e resignada da sua condição servil, nesse caso, no nosso caso, nesse momento histórico, não me parece mais adequado culturalmente.
O lixeiro e o segurança, não podem ser nossa expressão do urbano nem serve para expressar nossa contemporaneidade. E, francamente, não somos assim, talvez quiséssemos ser algum dia, mas não somos. O lixeiro entre nós o que é? Muito diferente por exemplo dos bombeiros americanos, e o que é a imundice das nossas cidades? Um desastre, uma sujeira impressionante. Então é mentira o lixeiro boa gente. E quanto a nossa capacidade de projetar a alegria na avenida com nossa gente pobre fantasiada, esse traço cultural é mais complexo. Gostei do Freixo diferenciando cultura e turismo, e olhando as Escolas de Samba com outros olhos.
Mas é verdade que o Sorriso é essa capacidade inesperada de produzir arte, mas melhor que não fosse assim e tivéssemos mais escolas e nossos bailarinos se multiplicassem em companhias de balé vitoriosas, o novo mundo produzindo um balé contemporâneo de primeira. Sorriso seria o que?
O futebol nos deu essa explosão de escolinhas de futebol por toda parte, em todo lado tem uma escolinha de futebol e nossa abundância em produzir craques é famosa. Isso é bacana, os meninos jogando bola nas escolinhas, como antes faziam nos terrenos baldios nas cidades. Seria bacana escolinhas Antonio Adolfo por todo Brasil, ou similares, mas como fazemos com a música?
E eu vi Chico Science...mas é tudo isso mesmo? Vamos acreditar então que a nação zumbi é isso tudo? Zumbi é tudo, mas isso é outra coisa.

eu fico então com João, Tom e Vinicius sobretudo.

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