quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Do déficite democrático ao pós democracia -1


pintura Damien Hirsch / foto GL
Jornal Expresso, Publicado a 22 Novembro 2011 
A Europa entrou na fase "pós-democracia"? Falar de deficit democrático pressupõe a ideia que há um desvio ou uma insuficiência a exigirem correcção; falar de "pós democracia" significa a entrada de um novo modelo que ainda não sabemos designar senão como inflexão, historicamente designada, da democracia.Uma constituição europeia que possa consagrar uma "transdemocracia" sem sacrificar a autonomia democrática nacional dos povos europeus e que denuncia já uma "pós democracia".Há hoje uma brigada de "funcionários esclarecidos" em Bruxelas que elaboram regulamentos e directivas com o intuito de controlar tudo e colocar tudo sob tutela, impondo um sem número de regras que determinam a vida quotidiana dos cidadãos europeus. Não se trata de um regime totalitário e violento, pois a sua missão não é "oprimir mas harmonizar" ( não é uma prisão mas uma casa de correcção). Esta guarda sabe tudo o que aos cidadãos interessa, nomeadamente o que é melhor para eles, e outra missão é evitar pedir-lhes opinião e submeter as decisões ao voto e à discussão públicas.A simples ideia de um "referendo" desencadeia uma imediata cadeia de pânico na eurocracia.Lembre-se as directivas sobre a curvatura dos pepinos e a coloração dos alhos franceses e o regulamento sobre a lâmpadas ecológicas de uso doméstico que ocupa 14 páginas.Entretanto o modelo técnico de governabilidade já é uma realidade em Itália e na Grécia, o que quer dizer que a Europa já está a virar as costas a essa velha conhecida que é a democracia já não assente no cidadão mas nas empresas.PS: continua - com ensaísta Hans Magnus Enzensberger e filósofo Jurgen Habermas (Expresso- António Guerreiro)

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