sábado, 17 de dezembro de 2011

No canto da música

É ingenuidade intelectual insistir em superficialidades, teses de descobrimentos inesperados, rompantes geniais surpreendentes interferindo no processo de produção, circulação e distribuição de riquezas que envolvem tanta gente, dinheiro e o modo de vida das nossas sociedades.
A indústria da música no mundo fez a opção pelo digital e se preparou para isso. A nova ordem estabelecida pelo avanço tecnológico, que é resultado de investimento, tratou de abandonar e finalizar o meio anacrônico superado. A pirataria, seu anti aliado, tem a função de impossibilitar qualquer recaída no modo de produção vencido, inaugurar a pedagogia do novo meio e impor a conscientização sobre as perdas institucionais que acarreta.
A indústria da música simplesmente não investiu nem mais um centavo no velho modo concentrando toda sua força e capacidade de resistência no estabelecimento da Nova Ordem que gradativamente vai se impondo com as legislações revistas e adaptadas para dar sustentação ao novo mercado digital, único meio de circulação e produção de riqueza para a música contemporânea. Os impecílios e ideologias contrários são vencidos sistematicamente.
Durante este período de reorganização não houve aproximação entre artista e público, ao contrário, o distanciamento se deve à falta de investimento e de locais de consumo, ausência de remuneração e mercado, enfim, o que se viu nesse período de transição foi o desestabelecimento da relação entre o artista e o público, a apropriação oportunista por pseudo artistas de um espaço em gestação e a pirataria desenfreada, a que desrespeita o direito e a propriedade do artista e portanto do conteúdo.
Paralelamente observamos um avanço colossal na presença da música anglo americana nos mercados de shows e apresentações ao vivo em todo mundo, derrubando as hegemonias locais e evoluindo em território de terra arrasada, desmobilizado pela pirataria e paralisado na ausência de mercado legal. A única música com investimento e geração de riqueza ocupou em toda parte o mercado de shows.
Registra-se ainda uma concentração do capital proprietário do conteúdo. Não se verifica crescimento do capital independente das grandes corporações, os independentes são absolutamente irrelevantes no mercado global comparado com as majors, que agora são três megacorporações, registrando-se portanto uma radical oligopolização do setor.
O que se chama de derrocada da indústria equivale a mal juízo, análise apressada, superficial e desinformada, a indústria da música de fato foi pioneira na implantação e adoção do meio virtual de circulação e se organiza gradativamente ampliando seu espectro global de exploração mercadológico. O superlucro dos anos 90 financia a viragem que assegura concentração de poder e riqueza por longo tempo. 

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