domingo, 4 de dezembro de 2011

Lembranças do Doutor


foto GL - Chelsea Londres


Conheci o Dr. Sócrates em Fortaleza quando fui fazer um show com Fagner. Passamos um dia inesquecível juntos. Começamos na Praia do Futuro, onde comemos caranguejos enquanto observávamos seu filho na praia chutando a bola. Ao invés de acertar o gol a brincadeira era acertar a trave. Sócrates sorria, e a cada tentativa certeira intuíamos um talento hereditário no menino, para seu orgulho. Conversamos sobre futebol e o Doutor lembrava que jogando na Itália sentia falta do sol para jogar. Com impressionante sensibilidade argumentava que o desempenho orgânico do atleta estava condicionado a geografia que o formara e no caso dele, o Sol e a temperatura quente eram matérias primas para seu jogo. Sem isso, nada feito, era preciso muito esforço, que aliás ele confessava ser uma atribuição em geral despercebida quando se fala de futebol jogado em competição, maltrata demais o jogador. O Doutor sabia que ao entrar em campo no mínimo tomaria uma surra a cada jogo e se resignaria com esses mal tratos semanais, quase diários. Praticava sua profissão apanhando literalmente. A vida de jogador, dizia ele, é duríssima sobretudo por conta da própria especificidade do esporte, violento e de contato intenso. Saímos da praia e fomos jogar futebol. A mesma elegância que deixara nos gramados o Doutor tinha espontaneamente, era fino e delicado, atencioso e sensível com todos. Em campo na pelada preferiu jogar na defesa, do alto dos seus olhos o campo ficava pequeno e ele esquadrinhava sempre a melhor jogada. Depois do jogo, a purrinha, o jogo dos palitinhos. O doutor era gregário, a alegria da convivência nele se manifestava evidente, esfuziante e intensa. Era um menino que a pretexto da proximidade com o outro, para estar em grupo e feliz, sabia competir como o jogo impunha. Quem conheceu Dr. Sócrates em campo sabe a extraordinária capacidade desenvolvida por ele, alto e magro, no exercício da prática, tanto que se tornou dos melhores do mundo. Recebi hoje, no dia de sua morte, um email de um antigo professor da Inglaterra, acusando o  sad day. Mas quem o conheceu  pessoalmente teve o prazer de desfrutar do convívio de um ser humano especial. Todo amor ao Doutor Sócrates para sempre. 
foto Gabriela London



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